Tuesday, June 28, 2022

ELT, Inclusion and Public Education

ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA:
CENÁRIO ATUAL E PRINCIPAIS DESAFIOS


O ensino de Inglês na escola pública enfrenta várias dificuldades de ordem institucional, formativa e social. Entenda melhor este cenário e sua estrutura.

OBSERVATÓRIO ENSINO
DA LÍNGUA INGLESA

28 jun. 2022



Apesar de o ensino de Inglês e línguas adicionais na escola pública ser previsto e regulamentado pela lei e por parâmetros curriculares, não é novidade que sua realidade e a forma como está estruturado estão permeados de desafios, que vão desde falta de recursos e investimento nas escolas até a desvalorização do corpo docente.
Tampouco é novo o fato de que o conhecimento do idioma Inglês é extremamente importante para a formação profissional e cultural de um indivíduo. Considerada língua de comunicação internacional, sua relevância é inegável em contextos como trabalho, estudos e viagem, mas não apenas isso. Saber Inglês abre portas para estudantes em termos de trocas interculturais e exercício do seu protagonismo.
No entanto, o acesso ao ensino do idioma nas escolas públicas está longe de ser o ideal. Nesse caminho, a pandemia contribuiu para tornar esse abismo ainda mais profundo.
Durante o longo período em que aulas presenciais foram suspensas e o ensino remoto foi estabelecido, a evasão escolar, que já era significativa, aumentou 171%, o que significa que mais de 200 mil crianças e jovens estavam fora da escola em 2021, agravando ainda mais esse cenário.
Neste artigo, vamos falar sobre a estrutura do ensino do idioma nas escolas públicas, abordar seus principais desafios e elencar algumas propostas e soluções para contornar as dificuldades.

A importância do Inglês na formação cidadã

Muito se fala sobre o papel do Inglês para a conquista de um trabalho e também para viagens, vestibular e outros contextos. Instituições privadas e o mercado de trabalho frequentemente salientam a importância da fluência no idioma para poder participar de um processo seletivo ou atingir cargos de gestão, por exemplo.
Nesse sentido, pesquisas mostram que 91% das empresas exigem Inglês em seus processos seletivos. Paralelamente, outro estudo citado na mesma matéria apontou que menos de 3% da população brasileira é de fato fluente no idioma, o que é um grande indicativo da exclusão e falta de diversidade em empresas.
Quando o assunto é a escola pública, sabemos que estudantes enfrentam outras dificuldades além do Inglês para ter acesso a vagas nas universidades e em processos seletivos em grandes corporações.
Nesse cenário, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) procura propor uma abordagem diferente para o ensino da língua na escola pública, já que a importância do Inglês para crianças e jovens vai além da visão tradicional de trabalho e viagem.
Por ser uma lingua franca, o Inglês pode ser visto mais como um patrimônio global do que como um modelo britânico ou americano. Isso permite o estabelecimento de um conceito mais flexível e aberto do idioma.
Essa concepção é importante para possibilitar que as aulas se tornem mais dinâmicas, vivas e próximas da realidade e das demandas dos estudantes brasileiros, sem a obrigatoriedade de atingir um estereótipo de um falante ideal da língua.
Essa perspectiva e o contato, nas aulas, com produções reais de Inglês de falantes de outras partes do mundo colaboram para que o estudante se aproprie do seu processo de ensino e aprendizagem e se veja como protagonista nessa jornada.
Dessa maneira, o Inglês rompe barreiras e deixa de ser visto somente como uma forma de acesso a uma empresa ou para uma viagem específica, mas, sim, um instrumento que viabiliza diálogo com o mundo, conhecimento de outras culturas e até mesmo a possibilidade de comunicar sua própria cultura.
Nesse sentido, para começarmos a falar sobre o ensino de Inglês na escola pública, essa mudança de ponto de vista é bem-vinda a fim de tornar a língua mais próxima, relevante e legítima para jovens e crianças.
Assim, ressignificar o Inglês como uma ferramenta para comunicação cultural liberta estudantes e docentes da ideia de métodos tradicionais que impõem padrões de proficiência e pronúncia ideais, que se aproximam dos falantes nativos. Dessa forma, a diversidade é valorizada e o aprendizado de Inglês se torna um instrumento muito mais valioso para conhecer o outro e a si mesmo.

A estrutura do Inglês na escola pública

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), bem como a Constituição Federal, são instâncias que regulamentam e preveem o ensino de línguas estrangeiras, como o Inglês, nas escolas públicas. No entanto, a realidade de como as aulas do idioma são ofertadas carece de parâmetros de acordo com as etapas de ensino ao longo do território nacional.
É importante ressaltar que, com a BNCC, o ensino da língua se tornou obrigatório a partir dos anos finais do Ensino Fundamental. Em outras palavras, a partir do 6° ano, todas as escolas brasileiras devem ter o Inglês em suas grades.
Apesar disso, estados e municípios têm autonomia para decidir muitos elementos relacionados às aulas de idiomas na Educação Básica, como a carga horária, o conteúdo e habilidades que serão trabalhados, entre outros aspectos.
Conforme aponta a pesquisa O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, do British Council, mais de 80% das aulas de Inglês nas redes municipais e estaduais têm apenas um ou dois tempos de aula (de cerca de 50 minutos) por semana, o que é um tempo muito inferior ao dedicado às outras disciplinas.
Somado a isso, o ensino de Língua Inglesa não conta com indicadores de desempenho, como é o caso de outras disciplinas como a Matemática. Isso dificulta o acompanhamento, mensuração e avaliação de resultados.
Em suma, as pesquisas e experiências apontam a necessidade de melhorar as estratégias e o planejamento em prol da qualidade da oferta do idioma, do nível municipal ao estadual e federal.

Os principais desafios do ensino de Inglês na escola pública

A forma como o Inglês na escola pública está estruturado já é em si um desafio, como mencionado acima. Além desse contexto, existem outros fatores que complicam o processo de ensino e de aprendizagem para estudantes e docentes. Vamos detalhar alguns aspectos a seguir.

Titulação docente inadequada
Para começar, um ponto que precisa ser destacado é a formação docente. De acordo com dados de pesquisa realizada pelo Observatório, grande parte dos professores do idioma não cursou Letras com a especialização necessária para lecionar a Língua Inglesa.
No mais, poucos docentes de Inglês possuem algum tipo de certificado de proficiência no idioma. Isso pode ser atribuído à falta de exigências padronizadas sobre essa questão.

Falta de recursos didáticos
Um aspecto determinante para qualquer aula e que é problemático no ensino de Inglês na escola pública é a falta ou inadequação de materiais didáticos.
Aulas de idiomas devem envolver fundamentalmente atividades que propiciem a interação e a prática da língua para que estudantes tenham um maior engajamento no processo. Em vista disso, a dificuldade reside justamente na carência de ferramentas, sobretudo as tecnológicas, que proporcionem essas atividades.
Quando presentes, itens como computadores, aparelhos de som e imagem e jogos muitas vezes precisam ser compartilhados com professores de outras disciplinas, e podem até mesmo encontrarem-se quebrados.
Com relação ao material mais comum disponível, o livro didático, esse também representa, de certa forma, um desafio à parte. Segundo a pesquisa do British Council, para 42% dos docentes que têm de fato acesso a livros didáticos de Inglês, esses não são atrativos para a realidade dos alunos e, por vezes, contam com um conteúdo muito avançado para o nível que se consegue atingir em sala de aula, alargando ainda mais o abismo entre jovens e crianças e o ensino de Inglês.

Inglês não é visto como prioridade

Uma das queixas principais de professores de Inglês é o tratamento dispensado ao componente curricular no dia a dia das escolas, apontam os dados do British Council. Nesse sentido, o sentimento de que seu trabalho é desvalorizado pode minar a atuação e o desempenho de docentes do idioma.
Conforme mencionado, nas escolas onde a língua é ofertada, as aulas de Inglês somam poucos tempos de aula e a matéria é vista como secundária e não tão essencial como Matemática e Língua Portuguesa.
Além disso, de acordo com a mesma pesquisa do British Council, docentes relatam ter que ceder seu tempo de aula para outras atividades escolares (como ensaios para festas de fim de ano), terem suas aulas alocadas nos piores horários e ainda serem pressionados a aprovar alunos com nota insuficiente.
Dessa forma, a postura da escola somada à própria situação de vulnerabilidade social de grande parte dos jovens e crianças das escolas públicas resulta no fato de que muitos não percebem a relevância do idioma para sua formação pessoal e profissional.
Nesse contexto, o Inglês é efetivamente percebido como um “luxo”, algo fora da realidade e do alcance desses estudantes. Assim, essa perspectiva apenas contribui para reforçar a exclusão social e impedir que alunos tenham acesso a oportunidade de realizar mudanças significativas em suas vidas.

Planejamento de aulas e formação continuada

Aulas de Inglês bem-sucedidas precisam ser, na opinião de docentes que responderam à pesquisa do British Council, mais lúdicas, coletivas e interativas para gerar engajamento dos alunos e envolvimento prático com a língua. Isso exige planejamento por parte dos docentes, que precisam de tempo para criar as atividades práticas que serão propostas em sala.
Todavia, a falta de material e apoio para o planejamento é uma queixa entre professores. Muitos se sentem desamparados e sem acesso a conteúdos didáticos que possam ajudá-los nesse processo.
Tal sensação de desamparo pode ser também um reflexo da carência de formação continuada. Para continuar atualizando conhecimentos, métodos e técnicas, professores precisam continuar estudando. Por meio de cursos, seminários e programas de formação, os profissionais podem conhecer materiais e práticas pedagógicas inovadoras e diferentes.
No entanto, essa realidade ainda não é comum — segundo os dados do British Council, a maior parte do corpo docente não tem acesso à formação continuada. As justificativas principais são falta de tempo e baixa oferta pelo sistema público. Muitos professores que buscam continuar estudando precisam fazer esse investimento do próprio bolso, o que é caro, e encontrar um horário que não entre em conflito com sua carga de trabalho.

Salas de aula lotadas e heterogêneas
Por fim, outro desafio que merece destaque é a superlotação das turmas. Além do fato da maioria dos docentes estarem sobrecarregados com diversas aulas por semana, turmas lotadas podem atrapalhar muito o andamento das atividades em aulas de idiomas.
No mais, um aspecto apontado por professores que responderam à pesquisa do British Council é a heterogeneidade das turmas em relação ao conhecimento de Inglês. Isso torna difícil acompanhar e auxiliar estudantes com maior dificuldade no idioma. Portanto, constitui um obstáculo para que professores imprimam um ritmo na aula e adotem um conteúdo que seja relevante a todos.

Caminhos e propostas para o ensino de Inglês na escola pública

Como podemos perceber ao longo deste conteúdo, são muitos os desafios do ensino de Inglês na rede pública, os quais têm origem estrutural, formativa e até mesmo da vulnerabilidade social na qual muitos estudantes e suas famílias estão inseridos.
Em muitas situações, professores de idiomas trilham um caminho solitário, tendo eles mesmos que investir em sua formação, no planejamento das aulas e na resolução de recursos para aprimorar suas aulas. A maioria deles está sobrecarregada e se sente desvalorizada.
Logo, uma potencial solução seria o investimento e incentivo à formação docente e formação continuada, ampliando a oferta de cursos de complementação pedagógica. Além disso, as redes de ensino deveriam contratar apenas docentes graduados com habilitação para lecionar a Língua Inglesa ou criar estratégias para que o corpo docente atual adquira a titulação necessária.
Em relação às instituições, uma proposta interessante seria o estabelecimento de metas e indicadores para o ensino da Língua Inglesa. Isso facilitaria a definição de parâmetros e o acompanhamento dos resultados, podendo contribuir para a melhoria da qualidade nas aulas.
Mesmo diante de tantos obstáculos, nota-se que o ensino do Inglês na escola pública se destaca pelo seu potencial, uma vez que é um instrumento de transformação, em especial para a individualidade e realidade de jovens e crianças.
Além disso, a Língua Inglesa pode ter um impacto positivo na dinâmica da própria comunidade escolar, contribuindo com elementos diferentes e interessantes que podem enriquecer o processo de aprendizagem como um todo.

Temas: Inclusão; Ensino Público; Ensino de Inglês; Ensino de Línguas

Adaptado de: https://www.inglesnasescolas.org/headline/ingles-na-escola-publica/. Acesso em: 28 jun. 2022. © 2022 British Council. Observatório Ensino da Língua Inglesa. Todos os direitos reservados.

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