Tuesday, June 21, 2022

ELT, Gender and Social Inclusion, Identity, Diversity

MAPEAMENTO DE BOAS PRÁTICAS
A SALA DE AULA COMO UM ESPAÇO SOCIAL


Matheus Utim leciona Inglês para as turmas de Ensino Fundamental, Anos Finais, e Ensino Médio na cidade de Itaberaí (Goiás).

OBSERVATÓRIO ENSINO
DA LÍNGUA INGLESA

21 jun. 2022


Matheus é professor de Inglês de uma escola pública no Estado de Goiás e mestre em Língua e Interculturalidade. Seu interesse pela Língua Inglesa começou muito cedo, ainda na infância, quando passava os domingos na companhia de seus pais ouvindo seleções de melhores momentos de cantores famosos. No momento da graduação, ele optou pelo curso de Letras porque já sabia que queria trabalhar com o ensino de Inglês. No entanto, Matheus sentiu falta, durante a graduação, do olhar para as questões da diversidade na formação dos docentes, pois ele só compreendeu a importância de abordar as temáticas de gênero em sala de aula após cursar uma disciplina no Mestrado sobre o ensino de línguas e diversidade. E foi a partir dessa experiência que Matheus sentiu que seu horizonte se expandiu e mudou a sua prática em sala de aula, compreendendo a necessidade de olhar criticamente para os desafios da nossa sociedade.

“Questionar os padrões, as relações de poder, as desigualdades, também faz parte do processo de educação linguística que os formadores de professores têm que ter em mente” (Matheus Utim)

Para o professor, o maior desafio do ensino de Inglês é romper com a ideia da “performance do nativo”, que devemos falar Inglês como “nativos”, um ideal que, para Matheus, é inalcançável e só afasta os alunos, pois ficam constrangidos por não apresentarem uma pronúncia “perfeita”. Por isso, o professor gosta de afirmar que fala o Inglês “goiano”, já que o seu sotaque é parte de sua identidade e de seu corpo.

Enxergando brechas na sala de aula

Matheus destaca que é essencial compreender que, para ensinar Inglês, o professor deve ter um olhar para o seu público, buscando associar os conteúdos com questões que façam parte da vida dos estudantes. E narra uma situação em que estava trabalhando o conteúdo do livro didático sobre aeroportos, quando um estudante disse que nunca havia ido a um aeroporto e essa situação colaborou para que Matheus se tornasse mais crítico com os conteúdos que leva para as turmas.

“Aprender Inglês não é aprender só regras gramaticais, regras linguísticas, é você aprender aspectos linguísticos, identitários, culturais, sociais. É um pacote” (Matheus Utim)

Para Matheus, a sala de aula é um lugar imprevisível, por isso, sua prática, além do conteúdo planejado, conta com as brechas que os alunos e os acontecimentos mundiais possibilitam. Um exemplo de brecha foi o trabalho que o professor desenvolveu com as turmas de 9º ano, no Dia Internacional da Mulher, aproveitando imagens de um vídeo que recebeu pela internet. Matheus levou a discussão sobre a forma como a sociedade impõe um ideal de corpo feminino, buscando incentivar nas turmas a análise crítica do discurso machista a que as mulheres estão submetidas.

“Eu peguei uns recortes de slides, coloquei enunciados e levei para discussão em Inglês: “You look like a skeleton” e “eat more”. Li uma por uma, no final eu falei assim: ‘Gente, quem escuta isso aqui mais, os meninos ou as meninas?’. Os números falaram por si porque foi perceptível, foi óbvio que as meninas ouvem mais esses enunciados que tentam regular seus corpos no sentido estético, comportamental, moral, sexual e aí foi bacana a discussão por isso” (Matheus Utim)

Já com as turmas do Ensino Médio, o trabalho foi a partir de uma entrevista de Maria da Penha Maia Fernandes – quem deu origem a Lei Maria da Penha – à BBC News Americana em que estudantes puderam analisar o texto em Inglês e discutir sobre violência contra a mulher em sala de aula.
É apresentando questões que permeiam o nosso cotidiano e marginalização de certos grupos, que Matheus escolhe trabalhar as questões linguísticas do Inglês, sempre utilizando vídeos, músicas, podcasts, memes da internet e até stickers* que os estudantes produzem do professor.

Desconstruindo preconceitos

Durante as rodas de discussões propostas, Matheus observa que as turmas começam a se dar conta de como as questões de gênero impactam a vida das mulheres e os alunos aprendem a entender que falam de um lugar de privilégio. As alunas se sentem confortáveis para relatarem suas experiências e isso também impacta os meninos. Para Matheus, a mudança não é evidente em todos os grupos; no entanto, ele relata que é comum que estudantes entrem em contato pelas redes sociais para discutir temas apresentados em sala, o que pra ele significa que as aulas instigam as alunas e os alunos a refletirem.

“É o trabalho crítico que leva em conta o que a linguagem pode construir e o que ela pode desconstruir. E o tempo todo entender que é um processo de desconstrução de (des)aprendizagem e de aprendizado constante. Isso me motiva a dar aula de Inglês. Poder contribuir para que as pessoas vejam o mundo de outras formas” (Matheus Utim)

É dessa maneira que Matheus Utim contribui para as boas práticas de gênero no ensino da Língua Inglesa, acreditando que é através da educação que poderemos desconstruir o preconceito e aceitar que existem outras formas de ser e se envolver no mundo. Ele é um dos professores entrevistados no Mapeamento de Boas Práticas em Gênero e Raça no Ensino da Língua Inglesa (conheça AQUI).

* Stickers são adesivos, ou as figurinhas comuns em aplicativos como o WhatsApp.

Temas: Inclusão; Ensino Médio; Diversidade; Direitos humanos; Gênero e inclusão social; Identidade; Ensino Fundamental

Tags: Inclusão; Diversidade; Ensino Fundamental (anos finais); Igualdade de gênero; Ensino Médio; Mapeamento de Boas Práticas; Experiências British Council

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