Tuesday, March 16, 2021

CULTURE AND ENGLISH TEACHING

Projeto de Inglês utiliza Beatles
para discutir igualdade racial


Arabelle Calciolari, professora de Língua Inglesa da EMEB Maria Angélica Lorençon, de Jundiaí (SP), relata sua experiência em trabalho desenvolvido para potencializar a aprendizagem dos estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental. No projeto, músicas da banda inglesa ajudam estudantes a aprimorar o idioma, além de discutir direitos civis e conhecer a história de Martin Luther King.


Publicado em 20/01/2020 por ARABELLE CALCIOLARI
DIVERSA - Educação Inclusiva na prática


Sou professora de Língua Inglesa da EMEB Maria Angélica Lorençon, localizada na cidade de Jundiaí (SP). Em 2019, realizei projeto para desenvolver a aprendizagem de estudantes do 4ª do ensino fundamental utilizando músicas dos Beatles.

Como inspirar os estudantes?

Durante os meus anos em sala de aula, percebi que as alunas e os alunos nem sempre conhecem grupos musicais que tiveram influência no mundo da música americana e inglesa. Imaginei, então, que seria possível utilizar letras de músicas de bandas históricas para aprimorar o ensino da Língua Inglesa.
Mas no que essas bandas poderiam colaborar para a aprendizagem do Inglês? Como elas poderiam inspirar estudantes? Esses foram os primeiros questionamentos que me fizeram arquitetar o projeto.
Como os Beatles não foram só uma das maiores bandas da década de 60, mas também lutaram pelos direitos civis e pela igualdade racial e de gênero, decidi utilizá-los como fonte de conteúdo para a proposta.
As músicas da banda de Liverpool apresentam boas mensagens e ótimas letras para que estudantes desenvolvam vocabulário e pronúncia em inglês. Além disso, também nos permitiria trabalhar, ao longo das aulas, aspectos sociais e históricos dos anos 60, expandindo o repertório cultural dos estudantes.

Conteúdos trabalhados

Colocado em prática, o projeto consistiu na apresentação de oito canções da célebre banda inglesa, cada uma por meio de exercício de listening diferente, variando as estratégias. O objetivo era o aprendizado dos conteúdos curriculares, além da compreensão do contexto de segregação racial dos anos 60, luta por direitos e igualdade de gênero e raça.
Para isso, utilizei conteúdos do Currículo de Língua Inglesa (vocabulário e estruturas linguísticas), História (luta por direitos e papel da mulher na sociedade) e artes.

Os Beatles: seu tempo e sua história


Nas primeiras aulas, os estudantes assistiram ao clipe da música “Hello, goodbye” e escreveram todas as palavras que conseguiram entender. Logo após, fizemos a checagem da lista de palavras e esclareceremos algumas dúvidas. Entreguei a letra da música recortada em estrofes e eles tiveram que colocá-la em ordem, assistindo novamente ao clipe. Posteriormente, fizemos a correção e explicação sobre o vocabulário que não entenderam. Realizamos também a repetição de palavras e pequenas frases para que pudessem cantar com a pronúncia correta.
Em outro momento, iniciamos a leitura de um livro que conta a história de formação da banda. Ao longo da obra, algumas músicas são citadas. Pedi para que os estudantes escolhessem quais canções seriam trabalhadas ao longo do curso. As mais pedidas foram “Don’t let me down”, “While my guitar gently weeps”, “I wanna hold your hand” e “Eight days a Week”.


“Blackbird”, Martin Luther King e Rosa Parks: estudando a segregação racial

Em um dos trechos do livro, pudemos entender como a banda estava atenta a tudo que acontecia no mundo e como usavam a música como forma de protesto. Em 1965, por exemplo, os Beatles se recusaram a tocar para uma plateia segregada nos Estados Unidos. Um dos itens da lista de exigências da banda para a realização do show incluía a recusa em tocar diante de um público em que brancos e negros estivessem segregados.
Para ampliar o olhar sobre essas questões e desenvolver a compreensão dos estudantes sobre o processo de segregação racial nos EUA, assistimos ao filme Hairspray, que mostra como a discriminação ocorreu nas escolas, em shows e em programas de televisão.
Posteriormente, apresentei Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis dos negros nos EUA. Lemos trecho do seu famoso discurso “I have a dream” e também conhecemos sua biografia. Além disso, discutimos sobre o que cada um entendia sobre o assunto, tiramos dúvidas e realizamos questionamentos.
Também conhecemos a história de Rosa Parks, ativista negra norte-americana símbolo da luta contra a segregação racial, ao lado de King. Parks ganhou notoriedade em 1955 por se negar a ceder o seu assento em um ônibus para que uma pessoa branca pudesse se sentar. O ato foi um marco no movimento antirracista nos EUA e fez explodir uma série de protestos contra a discriminação racial.
O estudo sobre essas personalidades foi tão marcante que foi utilizado como base para trabalhos de outras disciplinas realizados pelos estudantes no ano seguinte.


Para dar continuidade ao tema, fizemos uma série de atividades com a música “Blackbird”, inspirada nos conflitos raciais da América do Norte. Primeiramente demos aos alunos várias palavras em pequenos cartões. Em duplas, eles escutaram a música e identificaram quais palavras faziam parte da canção ou não. Depois receberam a letra da música com algumas palavras a mais e tiveram que riscar as que não pertencem à música.
 
Desenvolvimento da autonomia

Durante todas aulas, os estudantes demonstraram um interesse enorme pelas atividades propostas. Notei que muitos ficavam com os olhos marejados ao término dos vídeos, apresentando grande motivação para entender e discutir o processo de preconceito e discriminação racial. Ao longo das discussões, muitos compartilharam casos de racismo vivenciados em suas comunidades e famílias.
Foi emocionante ver todos querendo conhecer as músicas da banda. Mesmo após o término do projeto, continuei a levar diferentes canções para que os estudantes pudessem continuar a aprender e discutir questões relacionadas aos direitos civis.
Todo o processo foi muito significativo para os estudantes. Muitos chegavam à escola dizendo que assistiam em casa aos clipes da banda. Outros fizeram cartazes sobre Martin Luther King para expor na sala, mesmo sem eu ter pedido.


O projeto, sem dúvida, contribuiu para o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes na língua inglesa, mas fez mais do que isso: estimulou a autonomia e ampliou o olhar de cada um deles sobre a história da sociedade americana e, consequentemente, da deles.

Aluno nota 10


Com esse projeto, fui uma das 10 vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 de 2019. Após a premiação, decidi realizar uma cerimônia para homenagear os estudantes participantes do projeto e entreguei medalhas de “Aluno nota 10” para cada um. Também escrevi uma carta para agradecer a turma pelo aprendizado que eles me proporcionaram.

“Querida aluna/Querido aluno,

Nós passamos por muitas coisas juntos, não é mesmo? Foram cinco anos de muita história, e acredite, eu aprendi muito com você! Te agradeço por ter feito parte da minha vida, por ter feito de mim uma melhor professora e mulher.
Desejo ter colaborado para que você seja alguém do bem, alguém que pensa sobre o mundo em que vive e luta para que ele seja melhor.
Espero que você se lembre de mim, assim como vou me lembrar de você! Acredite, você estará sempre no meu coração. Você será sempre parte da minha história e parte de mim!
Preciso te agradecer também por ter ganhado comigo o Prêmio Educador Nota 10, isso mesmo, eu só ganhei porque você fez parte desse projeto, porque você é um ALUNO NOTA 10!

Com muito amor,
Profa. Arabelle”



Arabelle Calciolari foi uma das 10 vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 de 2019 com o projeto
“Os Beatles – seu tempo e sua história”.

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