Friday, April 22, 2022

ENGLISH - Teacher Training in Higher Education

CURSOS DE LETRAS-INGLÊS ENFRENTAM QUEDA DE PROCURA, APONTA PESQUISA


Instituições brasileiras de ensino superior estariam enfrentando baixa proficiência entre alunos que procuram o curso para serem professores de Inglês e poucas oportunidades para explorar didática durante a formação.

OBSERVATÓRIO ENSINO
DA LÍNGUA INGLESA

18 abr. 2022



Mais teóricos, menos práticos e pouco preparados para lidar com a insegurança dos alunos. É a percepção de boa parte dos alunos, professores e coordenadores em relação aos cursos de Letras-Inglês das universidades brasileiras em que estão inseridos, entrevistados na pesquisa “Formação Docente para Língua Inglesa”, de 2021. Realizada pela Nova Escola e pela Leme Pesquisa, o estudo faz parte das ações do programa UK-Brazil Skills for Prosperity, iniciativa do governo Britânico que no Brasil é dedicada a democratizar o acesso a um ensino da Língua Inglesa de qualidade nas escolas públicas.

O estudo realizado em 2021 buscou mapear as condições e os desafios encontrados na formação docente de alunos de cursos de Letras-Inglês das Instituições de Ensino Superior brasileiras (IES), por meio de uma abordagem quanti-qualitativa, em que indicadores quantitativos sobre o contexto demográfico da prática do ensino de Inglês no país, e perfil demográfico, e socioeconômico dos participantes, foram alinhados com entrevistas em profundidade com os entrevistados — por meio do qual foram extraídas informações específicas sobre a perspectiva dos coordenadores em relação à estrutura dos cursos. Por fim, o uso de grupos focais proporcionou informações mais aprofundadas sobre as dinâmicas cotidianas entre estudantes e docentes.

Para a pesquisa, foram entrevistados 25 coordenadores, 60 professores e 630 alunos de universidades que concentram 74,12% das matrículas em Cursos de Letras-Inglês em âmbito privado.
As IESs foram selecionadas a partir de métricas que buscavam uma diversidade de realidades e de perfis de participantes: o percentual de alunos pretos e pardos no curso, de mulheres no corpo docente, a presença de franquias em diversas regiões do país, o tempo de presença no mercado e o número de concluintes nos últimos anos.
Entre os resultados, baseados na própria declaração dos alunos, chama a atenção que 50% dos estudantes declaram estar entre os níveis A1 e A2 de Inglês, considerados básicos. Ao mesmo tempo, é baixo o índice de alunos que realizaram algum exame de proficiência no curso (20%). Metade dos alunos também se sentem completamente despreparados para lecionar Inglês, e enquanto 30% já sentem que têm preparo básico, apenas 20% consideram-se totalmente preparados.
Coordenador pedagógico na Nova Escola, Cainã Perri atribui os resultados a questões estruturais que acompanham os alunos antes de ingressarem nos cursos de Letras, em que, também muitas vezes, não há oportunidade para o desenvolvimento da proficiência do aluno, segundo os dados da pesquisa.
“É uma trajetória muito comum entre os alunos que vão para as universidades privadas: o principal acesso ao Inglês, até chegar à universidade, sendo obtido na escola pública em que realizaram a Educação Básica. O Inglês ainda é um marcador socioeconômico e a Língua Inglesa nas escolas públicas enfrenta vários desafios: falta de equipamentos, de material didático, de professores que sejam certificados ou tenham proficiência. Então, é um ciclo em que você chega ao curso para aprender a língua, mas aí em média só ⅕ da grade é dedicada a esse aperfeiçoamento. Ou seja, são cursos que não estão preparados para sanar essa dificuldade inicial”, explica.
A conciliação dos estudos com outras obrigações da vida é uma realidade comum a boa parte dos alunos: 60% deles considera um desafio conciliar os estudos com outras atividades, sensação identificada pelos professores — 75% responderam que seus alunos dividem o tempo no ensino superior com algum trabalho. A sobrecarga de tarefas, que já inicia na graduação, também perdura após a obtenção do diploma: segundo dados do Censo Escolar 2020, analisados pelo Observatório Ensino da Língua Inglesa, em média um docente de Língua Inglesa leciona para 303 estudantes — acesse os gráficos AQUI.

Tão perto e tão longe da diversidade

O perfil dos entrevistados que participaram da pesquisa já responde a um dos pontos mais sintomáticos do quadro de docentes de Língua Inglesa: a diversidade durante a formação, mas que, no mercado de trabalho, ainda não alcança boa parte das salas de aula de Inglês nas escolas.
Boa parte dos alunos encontrados na pesquisa são de baixa renda, pretos e pardos, e conciliam trabalho com os estudos. No entanto, nas salas de aula brasileiras, o perfil é outro, segundo dados do Censo Escolar analisados pelo Observatório: professoras negras representam apenas 24,56% do todo, as brancas 32,96% e as indígenas, 0,3% — acesse os gráficos AQUI.
Professora na rede municipal de Triunfo (RS) e mestranda em Educação na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Kelly Gularte convive com uma realidade em que é a única professora negra no meio em que atua. Para ela, os dados são um recorte de uma questão mais ampla — o pouco incentivo à inscrição de candidatos negros em processos seletivos nas redes públicas de ensino.
“Ser professor de Inglês é uma especificidade que exige uma demanda maior do profissional e muita gente acaba optando por não se dedicar por falta de estímulo. Por isso, é preciso pensar em mais ações afirmativas que possam motivar a presença desses professores negros nos processos seletivos e nas salas de aula. Ao mesmo tempo, é uma discussão que precisa estar presente durante a própria formação nos cursos de Letras, o que ainda não observamos”, reflete.

A ascensão do ensino a distância

Se 2/3 das matrículas estão em instituições de ensino superior privadas, 67% delas oferecem os cursos em educação a distância (EAD) — modalidade que cresceu durante a pandemia, em especial entre a licenciatura, que compõe a maior fatia de cursos no ensino superior sob esse formato. De acordo com o Censo de Ensino Superior, o crescimento do formato entre 2019 e o primeiro ano da crise sanitária da Covid-19 foi de 26,2%. Já entre os cursos presenciais, houve um decréscimo de -13,9%.
O estudo da Nova Escola e da Leme Pesquisa também indica, entre os cursos presenciais de Inglês, a necessidade de se adaptar ao modelo EAD; alguns estariam analisando ampliar a oferta de disciplinas a 40% da carga horária total da grade, limite que hoje é permitido pelo Ministério da Educação (MEC).
Para Eduardo Leme, da Leme Pesquisa, o formato tem benefícios e desvantagens para os alunos, mas pode ser uma resposta diante dos desafios apresentados pelo mercado já durante a formação dos futuros professores.
“Entre as maiores oportunidades está a possibilidade de poder contar com a redução do número de desistências de alunos e com a maior facilidade de os matriculados fazerem cursos de idiomas paralelos à graduação superior. Principalmente por conta da redução de tempo e custo que o deslocamento gera. A pesquisa indica que a maior perda no modelo a distância está relacionada à menor interação entre professores e estudantes. Essa falta de interação faz com que os estudantes tenham menor tempo de conversação no idioma e sintam-se menos preparados para assumir a sala de aula”, explica.

BNCC na formação docente

Alunos, professores e coordenadores concordam que os cursos estão voltados, principalmente, à formação do professor que vai atuar em contexto de Educação Básica. Um dos exemplos concretos que são apresentados é a aderência das grades à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), principal documento que norteia os currículos das escolas do país: 65% dos alunos identificaram a presença do documento durante sua formação, enquanto 80% dos professores afirmam que a BNCC é apresentada no curso, e 75% alegam ter pleno conhecimento sobre a BNCC.
No entanto, a teoria não anda lado a lado com a prática: a partir das entrevistas com os coordenadores dos cursos, a pesquisa identificou que apenas 11,2% dos currículos das IES estão voltados a atividades práticas que, de fato, possam contemplar a BNCC — o que, para Cainã Perri, também é um sinal de alerta.
“Com a BNCC temos uma concepção de linguagem voltada para a interação: aprendemos a língua pelo seu uso e para usá-la no mundo real. Mas como vamos trabalhar isso se o professor não desenvolveu essa competência comunicativa em sua formação?”, questiona.
Mas é possível ter otimismo. Para a gerente pedagógica da Nova Escola, Tatiana Martin, os dados obtidos em campo demonstram que os avanços no debate sobre o lugar da BNCC, na formação, entre profissionais ligados ao ensino do Inglês e que estão nos cursos superiores, é uma prova de que é possível utilizar o Ensino Superior como um ambiente de ensaio para transformações reais no Ensino Básico.
“As habilidades propostas pela BNCC para o ensino e aprendizagem de Língua Inglesa na Educação Básica já indicam essa intencionalidade. Nesse sentido, entendo ser essencial que professores tenham à sua disposição materiais de qualidade, que possam participar de formações sobre ensino e aprendizagem de Língua Inglesa e que tenham acessos, eles mesmos, a cursos para desenvolvimento da língua”, reflete.

Conclusões e esperança

Apesar dos desafios, alunos, professores e coordenadores indicam caminhos que prometem um futuro melhor à formação dos discentes. Entre eles, 75% dos alunos acreditam que a oferta de um curso extracurricular gratuito, em paralelo às atividades na sala de aula, poderia enriquecer o ensino da Língua Inglesa nas escolas brasileiras. Iniciativas que possam facilitar a internacionalização dos alunos e o contato maior com escolas da Educação Básica também foram sugestões apontadas pelos entrevistados.


Temas: Skills for Prosperity; Formação de Professores; Proficiência Linguística; Gênero e Inclusão Social; Ensino Superior; Ensino a distância
Tags: Formação de Professores; Nova Escola; Ensino Superior; Letras-Inglês


Adaptado de: https://www.inglesnasescolas.org/headline/cursos-de-letras-ingles-enfrentam-queda-de-procura-aponta-pesquisa/. Acesso em: 22 abr. 2022. © British Council 2022, UK Brazil Skills for Prosperity, Reúna, Nova Escola, Fundação Lemann, UK Government. Todos os direitos reservados.

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