Monday, April 5, 2021

BILINGUALISM

Certificação funciona como um farol para alunos e professores de escolas bilíngues


Avaliações externas ajudam a encontrar lacunas de aprendizagem, que precisam ser atendidas com uma abordagem diversificada e baseada no interesse dos alunos

Luciana Alvarez 
29 de março de 2021
Parceria com EDIFY


Quando um estudante demonstra interesse no idioma e se destaca em sala de aula, os professores da escola João de Barro, em Petrópolis (RJ), logo conversam com os pais e recomendam que eles façam provas de certificação externas. “A gente explica a importância e oferece uma preparação no contraturno”, relata Andrea Burrowes de Castro, coordenadora do 4º ao 9º ano do ensino fundamental. Embora não seja bilíngue, o colégio oferece uma carga horária estendida, com aulas todos os dias da semana.
A preparação dura no máximo dois meses e, em geral, se caracteriza por simulados. “É para eles conhecerem o formato. Com esse treino, vão para a prova seguros e tranquilos”, explica Andrea, que é quem faz a preparação. Os professores indicam a prova no nível adequado de conhecimento para cada um, o que tem garantido o sucesso no resultado de todos os alunos até agora.
Mas a docente diz que as vantagens do estímulo à certificação chegam para a escola inteira, não apenas para os que fazem o exame. De forma geral, os estudantes sentem-se estimulados a se dedicar mais ao inglês e ganham confiança em seu conhecimento. “Com a certificação, a gente consegue provar as habilidades que já têm. E fica sendo algo que eles almejam. Muitos dizem que não estão prontos em um ano, mas vão se preparar para fazer a prova no ano seguinte”, conta Andrea.

Para escolas bilíngues, os níveis de conhecimento linguísticos desejáveis para todos os estudantes foram definidos neste ano por uma norma do Conselho Nacional de Educação. Seguindo os seis estágios do CEFR (sigla em inglês para Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas), parâmetros hoje seguidos por todo o mundo para definir habilidades linguísticas, alunos do 5º ano precisam estar no nível A2 (que é o segundo nível básico), ao fim do fundamental devem alcançar o B1 (intermediário) e o B2 no final do ensino médio.

O padrão de referência CEFR define 6 níveis de conhecimento linguístico
  • A1 e A2 – níveis básicos
  • B1 e B2 – intermediários
  • C1 – avançado; já pode ser usado para o ingresso em faculdades
  • C2 – proficiente
“Esses são padrões mínimos, mas as boas instituições conseguem ir além. Mesmo em escolas que não são bilíngues, mas oferecem a carga horária estendida, a gente tenta ultrapassar esse patamar e chegar ao C1 no fim do ensino médio”, afirma Mônica Teles, coordenadora pedagógica do programa Edify de educação bilíngue.

Mesmo quando há diversidade de níveis de aprendizado, como quando um aluno troca de escola, onde tinha menos carga horária do idioma estrangeiro, as lacunas podem ser fechadas com o passar dos anos. Com paciência e acolhimento, no final da escolaridade, ninguém fica para trás. “No mundo ideal, a escola deve oferecer formas de apoio individualizado e personalizado a esse estudante que estava em defasagem. Ele vai precisar de mais esforço e aumentar seu tempo de exposição, mas sempre guiado. Com o decorrer do tempo, ele alcança a turma”, garante a coordenadora do Edify.
A forma de assegurar que as crianças e adolescentes estão de fato nos níveis de aprendizado desejado é por meio de certificações externas. Portanto, ainda que não sejam obrigatórias, o estímulo para que os estudantes as façam têm sido crescente em todas as instituições que valorizam o inglês.
Segundo Monica, os exames externos dão credibilidade. “De forma geral, estamos num processo de construção de uma cultura de certificação. Elas dão validade ao trabalho da instituição. As famílias passam a reconhecer que a escola está oferecendo um inglês de qualidade”, afirma.
Alberto Costa, gerente acadêmico da Cambridge Assessment English, um dos principais sistemas de certificação do mundo, defende que o retorno positivo para uma escola com cultura de certificação vem de várias formas. “Dentro do currículo, vai ter uma adequação, o que traz impacto para as práticas pedagógicas. Se vai preparar para um exame que exige avaliação oral, a escola vai ter que desenvolver a oralidade dos alunos, uma parte que costuma ser negligenciada”, diz.
Além disso, a preparação para essas provas contribui para que o estudante vá além do aprendizado do idioma, desenvolvendo habilidades e competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). “As avaliações não focam em assuntos isolados, como gramática e vocabulário. As competências das provas são parte do dia a dia da escola, coisas semelhantes a apresentar um projeto de ciências para a classe: o aluno tem que se preparar para um monólogo de dez minutos, estruturar seu discurso”, cita.

Outras formas de avaliar

Por mais que sejam importantes, as certificações não podem reger como serão as aulas de idioma em uma escola. “É um erro tornar isso o foco principal. A preparação para o exame deve ser paralela à vivência de sala de aula. É um documento que garante que o aluno está em certo nível, mas em sala de aula o professor tem que se preocupar com o desenvolvimento integral”, alerta Isabela Villas Boas, doutora em educação e sócia-diretora da consultoria educacional Troika.
Avaliações para os objetivos de aprendizagem em sala de aula devem seguir outros modelos. “As provas externas, por precisar de um alto índice de confiabilidade, tem muitas questões de múltipla escolha. Mas preencher lacuna ou múltipla escolha são contextos artificiais, que não representam o mundo real. A avaliação em sala de aula tem que ser contínua e pode usar elementos mais diversos”, explica Isabella.
O professor, aconselha a educadora, deve dar preferência a instrumentos mais autênticos, como gravar podcasts, fazer discussões e trabalhos escritos de diferentes gêneros discursivos – e não somente de ensaios, por ser o pedido nas certificações. Segundo ela, a preparação para a certificação deve existir, mas com peso relativo. “Quantas vezes na vida o aluno vai fazer esses exames? E quantas vezes na vida vai ter que escrever um texto se expressando em inglês?”, questiona.

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